quarta-feira, 29 de abril de 2009

Crítica: ENRON - Os Mais Espertos da Sala


Um documentário - baseado no best-seller homônimo, de Bethany McLean e Peter Elkind¹, com direção de Alex Gibney - que relata eficazmente a trajetória da ENRON Oil, megaempresa – a 7ª maior dos EUA – criada na década de 80, que atuava no setor de energia, oferecendo também fontes alternativas – gás natural, por exemplo. É abordado desde a sua brilhante ascensão até o maior caso de falência registrado àquela época nos EUA, que levou consigo não apenas a bilionária estrutura, mas também sonhos e confiança depositados em forma de valores monetários.
A ENRON era comandada por Kenneth Lay – presidente - e Jeffrey Skilling – “braço direito” de Lay e mentor das brilhantes ideias. Posteriormente contariam ainda com Andrew Fastow – diretor financeiro que operava perspicazmente os “milagres” da valorização propostos por Skilling. Três homens que, com suas particularidades, tinham em comum o desejo de alcançar riqueza, cada um com a sua motivação. Skilling, por exemplo, vindo de família pobre, conciliou estudo e trabalho desde muito cedo. Seu sonho era obter “status” financeiramente e ser reconhecido – quiçá eternizado – pela sua grande imaginação, e talvez seja essa a explicação da notoriedade que ganhou no caso.
A empresa levou cerca de 16 anos para obter reconhecimento no mercado financeiro estadunidense e era vista como investimento certo e seguro devido à constante valorização – quase que milagrosa – de suas ações. Todos queriam ser acionistas da ENRON, pois tinham total certeza de que investiam nos melhores; nos “mais espertos”. Sim, dentro da ENRON havia gente muito esperta; especialmente dentro “daquelas salas”. Era ali que tudo acontecia; em determinados andares do luxuoso empreendimento ganhava-se muito dinheiro. Como ocorria? Ninguém pedia maiores explicações. As ações subiam? Lucrava-se com isso? Era o bastante. Saber como o dinheiro surgia era apenas um pormenor que ninguém abordava.
Até a jornalista Bethany McLean fazer as provocantes perguntas: “Como a ENRON ganha dinheiro”? “Não seriam suas ações caras demais”? Tais artigos foram publicados na revista Fortune, com o objetivo de incitar o questionamento de como essa valorização acontecia; qual era a explicação para uma empresa vender lotes de ações por preços tão exorbitantes. Porém não obteve reconhecimento na época, decorrente do encantamento geral provocado pela empresa. A todo o momento, funcionários, investidores e pessoas humildes, eram encorajados, principalmente por Skilling, a investir tudo o que tinham na empresa.
As explicações surgiriam. Descobriria-se que a empresa utilizava artifícios não lícitos para manter suas ações no topo. Através de um método contábil denominado “Marcação a Mercado”², contabilizavam lucros futuros em seus balanços atuais – constantemente manipulados por Fastow. Porém, estes mesmos lucros não estavam concretizando-se e se transformavam em prejuízos milionários, com negócios que não davam certo – em exemplo a tentativa de implantação de energia na Índia, que por falta de condições do país, fracassou. Entretanto a ambição dos condutores da ENRON não permitia assumir a iminente bancarrota.
Visando lucrar ainda mais, propuseram ao governo da Califórnia a desregulamentação³ da energia; e como forma de pressionar os residentes a pagarem o preço, chegaram a provocar um blecaute geral – motivo de piada interna na organização.
O processo que abrange a história da ENRON, se analisado minuciosamente, poderá revelar muito além de números mal contabilizados, falcatruas e manipulações. Talvez nos revele segredos de vida, ou ainda, psicologicamente falando, peculiaridades mentais inerentes aos gestores da empresa que nos remete à filosofia de Tom Morris acerca dos alicerces para a excelência humana, que podem e devem ser aplicados na esfera profissional: apesar da Beleza estética dessa grande corporação, não havia Unidade entre Diretores, clientes e funcionários, e talvez a falta da Bondade de alguns, tenha provocado a escassez da Verdade para muitos. Sem falarmos no claro exemplo da falta de Responsabilidade Social Corporativa, evidenciada no desfecho do caso.
Paradoxalmente à sua ascensão, a ENRON não precisou de tempo superior a algumas semanas para anunciar falência total em dezembro de 2001, deixando milhares de pessoas que haviam investido tudo o que tinham com aposentadorias, previdência e benefícios e agora não restava mais nada além de um prédio vazio. Os responsáveis e co-responsáveis tomaram rumos distintos, cada um recolheu os lucros que conseguiram, venderam seus lotes enquanto puderam e além de fugas e suicídio, ocorreu em maio de 2006, a condenação de Ken Lay e Jeff Skilling por conspiração, podendo chegar a aproximadamente 45 e 185 anos de prisão, respectivamente. Entretanto Ken Lay foi encontrado morto na cidade de Aspen (Colorado) na manhã do dia 05 de julho em decorrência de um provável ataque cardíaco. O pronunciamento da sentença de Lay estava previsto para a segunda quinzena de outubro daquele mesmo ano.

¹ Jornalistas da revista estadunidense Fortune.
² Método contábil relativamente polêmico que consiste em atribuir valores à determinada cota de fundo de investimento, com base no preço de mercado atual, dando ao investidor uma ideia de quanto valeria seu portifólio, caso fechasse um negócio naquele momento.
³ Procedimento onde o governo não interfere na estipulação de preço mínimo para a venda de determinado produto ou serviço.

terça-feira, 7 de abril de 2009

AZIENDALISMO

Doutrina da Contabilidade, a qual consiste na corrente de pensamentos que implantaria a dita Economia Aziendal, segundo Antonio Lopes de Sá. Surgiu a partir da necessidade de existir um sistema de ciências que cuidasse dos fenômenos ocorridos em torno do mundo particular das aziendas¹, se formou ao longo de muitos anos, obtendo lentamente sua consolidação.
Lopes de Sá define como objeto de estudo do Aziendalismo, os fenômenos ocorridos nas células sociais².
Fenômenos esses que, pode-se dizer, são produzidos pelas riquezas. Entretanto, não apenas estas. Quando se fala em fenômenos, entendemos por toda e qualquer movimentação pertinentes ao patrimônio e à organização num todo - isto inclui os elementos humanos a ela pertencentes.
Europa
O Aziendalismo teve suas origens com pesquisadores de outras partes da Europa, – França, Rússia, Suíça e Alemanha - antes de se desenvolver como grande escola de pensamento italiano.
Dentre os principais representantes europeus destaca-se Courcelle-Seneuil, Leo Gomberg, Johann Friedrich Schär, H.Nicklisch e Rudolf Dietrich.
Itália
Iniciado pelos ilustres mestres Alberto Ceccherelli e Gino Zappa, O Aziendalismo italiano teve inúmeros seguidores para dar seguimento às luzes desses pioneiros, formando a maior corrente de pensamento doutrinário das ciências aziendais do século, apesar do forte declínio que sofreria a partir do século XX, mais precisamente, na década de 60.
Os aziendalistas se preocupavam em estudar o conjunto de ciências que tratavam da azienda como campo de aplicação. Compunha-se da Administração, da Organização e da Contabilidade, sendo cada ciência apenas parte desse conjunto.
Como destaques na forte corrente italiana temos: Alberto Ceccherelli, Gino Zappa e Pietro Onida.


¹ Célula social onde o homem desenvolve atividades para a satisfação de suas necessidades, chamada, impropriamente, de “entidade”, poderá ser denotada como “organização” ou “instituição”. Constitui-se em elementos humanos e patrimônio ou riqueza.
² Vale ressaltar que o estudo das células em si (aziendas) em nada compete à Contabilidade, pois esta se preocupa tão somente com os fenômenos aziendais.